A engrenagem da saúde

Engrenagens são elementos mecânicos compostos de rodas dentadas que se ligam a eixos, aos quais imprimem rotação e torque, transmitindo assim potência. A descrição, encontrada na Wikipedia, nos faz enxergar as rodas dentadas se encontrando milimetricamente para exercício da sua função precípua. Ao passo que um destes dentes não se encaixa de maneira precisa com aqueles da outra roda, a engrenagem trava e perde seu efeito.

Fazendo-se um paradoxo entre a engrenagem e a saúde, podemos imaginar pelo menos 5 destas rodas dentadas representando cada um de seus principais participantes e a necessidade de precisão entre elas. Seriam estes, o paciente (maior interessado no sistema e, teoricamente, foco da atenção) – engrenagem principal-, o prestador de serviço, representado pelos profissionais da saúde (ênfase aos médicos neste contexto), o laboratório, auxiliando e subsidiando as informações necessárias para o preciso diagnóstico clínico, o hospital oferecendo adequada infra estrutura que permita o tratamento indicado para as mais complexas e diversas enfermidades e, por fim e tão importante quanto as outras, a fonte pagadora que proporciona a energia necessária para o funcionamento da engrenagem de maneira contínua e ininterrupta.

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Fica claro que este sistema funciona sempre que esta “engrenagem” está alinhada, lubrificada e precisamente calculada para exercer sua função. Na saúde, os dentes destas rodas têm se encontrado de forma desordenada mais vezes do que seria “aceitável”. Parece que falta óleo, ou melhor, um realinhamento ou rearranjo desta estrutura global. Dá a impressão de que o sistema enferrujou, algum destes dentes se quebrou ou algumas rodas precisam ser revistas…

O sistema está travando! A roda principal desta engrenagem está sendo forçada pela falta de precisão entre o encaixe de todas e corre o risco de se quebrar ou travar de vez! O sistema precisa de ajustes e não pode mais esperar. Todavia, a engrenagem em movimento é vital e não pode parar para ser consertada. Há necessidade de um esforço técnico para que estes dentes entrem no ritmo e que esta engrenagem trabalhe precisamente para sua finalidade. A saúde não pode parar, mas também não pode mais viver o descompasso entre seus players.

A sensação de que o movimento das rodas desta engrenagem está sempre prestes a estourar não mais se sustenta. Chegou a hora do acerto, da regulagem, da lubrificação, da remodelagem e da integração entre cada uma destas peças. Elas só funcionam se tiverem o mesmo objetivo, elas só se engrenam se focarem no paciente e ao mesmo tempo entenderem que a confiança, fruto da transparência entre elas, deva existir de verdade.

Não há mais espaço para oportunismos ou oportunistas na área da saúde. A tecnologia chegou para auxiliar a encontrar um ponto final na desconfiança entre cada um destes integrantes e substituí-la pela clareza nas ações, objetivos comuns e foco verdadeiro no paciente e na saúde. Modelos de prevenção e atenção à saúde como linhas de cuidados vêm sendo cada vez mais presentes, compromissos com o desfecho clínico já fazem parte do discurso diário, a utilização do recurso de forma responsável e sustentável já é fundamental na equação e a remuneração justa é incontestável reconhecimento do trabalho sério de todos os profissionais.

Por que então tanta dificuldade para colocar em prática o tal do value based health care – da medicina baseada em valor? Em qual das rodas falta um dente? Onde estamos travando esta engrenagem? A meu ver, só precisamos que estas 5 rodas se reposicionem, cada uma delas no seu papel e posição adequada, para promover saúde. Assim, esta engrenagem passará a imprimir rotação e torque, transmitindo toda a sua potência em benefício da sociedade e colhendo os frutos de justo reconhecimento para cada uma das suas peças!

<span class=”hidden”>–</span>Felipe Cotrim/VEJA.com
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Fernanda de Souza

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