Por um lado, somos todos um pouco velhos. Quem já sentiu o peito apertar, ou se entregou à nostalgia de bons tempos vividos, teria algo de antigo na alma. “Toda saudade é uma espécie de velhice”, escreveu Guimarães Rosa.
Por outro, não seremos velhos nunca, se assim não quisermos. “Não somos velhos enquanto buscamos”, anotou o filósofo francês Jean Rostand. A inquietação do espírito, o desejo de estar sintonizado com o seu tempo, a vontade de viver com intensidade cada dia que nos é dado, tudo isso seria a chave da eterna juventude.
Tenho a lembrança de que, quando menina, encarava as pessoas acima de cinquenta anos como próximas de uma idade avançada. Naquela época se falava que a vida começava aos quarenta. Hoje, é comum ouvirmos que os sessenta são os novos quarenta. Faz diferença? Sinceramente, acredito que não. Os números não contam nossa história, ou pelo menos a parte mais interessante.
Durante muito tempo, a indústria e o setor de serviços segregou o cidadão sênior num nicho pouco valorizado. O mercado seguia a lógica da pirâmide etária brasileira, um país que até outro dia tinha a maioria da população jovem.
Entretanto, hoje a fila preferencial do caixa no supermercado, ou para o embarque no aeroporto (quando for novamente possível), está cada vez maior. Dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que a população com mais de 50 anos no Brasil crescerá a um ritmo chinês nas próximas décadas, consolidando um imenso mercado consumidor que já movimenta R$ 1,8 trilhão por ano e responde por 42% do consumo nacional. Pessoas com mais de 50 anos representam a terceira maior economia do mundo. Uma imagem que, no entanto, querem ver limitada a folhetos de planos de aposentadoria privada.
A verdade é que o mercado de trabalho, que ainda tem dificuldade em aceitar a diversidade, não reserva lugar para os mais experientes. O que significa dar um tiro no próprio pé. Em geral, os fios brancos no cabelo denotam mais experiência, mais conhecimento, mais cultura. São pessoas com maior vivência, patrimônio e capacidade de investimento, cada vez mais representativas dentro da sociedade.
Assim o erro dos estrategistas, que estavam certos até anteontem, felizmente está sendo corrigido. Em referência ao potencial econômico e maior disposição para a vida dessa geração grisalha, ela ganhou o midiático nome de “silver power”.
Sob todos os holofotes, o grupo dos “50+” já é o maior mercado consumidor do Brasil. E não vai parar de crescer. Suas aposentadorias movem municípios inteiros no interior do país, e seus hábitos de consumo específicos geram novos negócios todos os dias. Tenho muito orgulho de estar vivendo este tempo, em que não temo mais a pessoa mais velha que me tornei.
“Todo mundo quer viver muito tempo, mas ninguém quer ser velho”, comentou com ironia Jonathan Swift no século XVIII. O famoso escritor satírico dublinense continua tendo razão, mas hoje sua tirada não soa mais como a denúncia de uma contradição.