Se o conceito de apropriação cultural pegasse no Brasil, não existiria cultura – popular, média ou alta.
Não que não exista gente querendo importar para nossa grande feijoada macunaímica a patetice politicamente correta de seus centros irradiadores mais endoidecidos, os Estados Unidos e a Inglaterra.
A última flagrada na patrulha foi Adele exibindo-se no Instagram com biquíni de bandeira da Jamaica e arranjo de plumas nos cabelos com rolinhos à moda africana.
A cantora fez a foto para comemorar o “carnaval virtual” que substituiu o real, em Notting Hill, onde os ingleses de origem jamaicana baixam em massa.
E, principalmente, para mostrar o emagrecimento de proporções épicas.
Como abraça causas progressistas, driblou as críticas com um passaporte de imunidade ao patrulhamento.
Entre os defensores, o argumento mais ridículo foi que a cantora nasceu em Tottenham, com uma grande população com um pé na Jamaica, e portanto pode ser considerada de raiz.
Se tivesse nascido em Kensington, estava frita.
Muito mais sério é o que está acontecendo em instituições britânicas intoxicadas pelos absurdos da era PC, como a BBC, a British Library e até o British Museum.
A BBC eliminou de um evento anual de música clássica a parte em que pessoas comuns agitam bandeiras britânicas e acompanham um coral cantando Rule Britannia, canção patriótica da época em que o império se expandia.
A parte da letra considerada ofensiva diz que a Bretanha (inglesa) “domina os mares e os britânicos jamais serão escravos”. Em inglês, os versos rimam.
A música é praticamente um segundo hino nacional (o primeiro é God Save the Queen, ou King, quando um homem porta a coroa, sob risco de logo, logo virar Person), mas a letra foi impiedosamente cortada pela BBC pelo simples fato de mencionar a palavra “escravos” em relação aos feios, sujos e malvados homens brancos.
A alvura da pele também influenciou a bibliotecária-chefe da British Library, Liz Jolly, a decretar que “racismo é uma criação dos brancos” e, à luz dessa barbaridade, lançar uma “revisão” dos 200 milhões de livros, documentos e obras de arte ou estatuaria sob sua responsabilidade.
O “grupo de trabalho de descolonização” formado por funcionários contesta o próprio prédio da British por evocar um navio, um “símbolo imperialista”.
Com toda certeza vão acabar chegando ao Newton gigante que identifica a biblioteca, ao lado da estação St. Pancras, uma obra do italiano Eduardo Paolozzi.
No momento, estão encostando em figuras históricas cujas coleções fundamentaram a biblioteca, criada em 1753, como Hans Sloane, um iluminista do século 18.
Acusação: Sloane – o mesmo da praça chique em Chelsea – usou dinheiro da família da mulher, proprietários de engenhos na Jamaica, para adquirir seus 71 mil livros e artefatos.
Sloane também entrou na mira do British Museum, do qual foi um dos fundadores. Um busto do naturalista e colecionador foi retirado, dentro do “alinhamento com o espírito e a alma do Black Livres Matter em todos os lugares”, nas palavras de seu diretor, o alemão Hartwig Fisher.
Também está sendo discutida a devolução de uma coleção de artefatos de bronze do Reino do Benin, hoje em território da Nigéria.
Se for devolver tudo que vem de outros países, não sobrará praticamente nada no British, um museu da civilização mundial, favorecido pela extensão do império britânico e pela paixão de arqueólogos e estudiosos de tudo e todas as coisas.
Na British Library, a reivindicação revisionista servilmente atendida pela bibliotecária-chefe alcança a substituição de “mapas eurocêntricos” e as coleções de música clássica, parte de uma “noção ultrapassada” da cultura ocidental.
Bustos de Beethoven e Mendelssohn estão a perigo por integrarem a “supremacia civilizacional ocidental”.
Quem sabe Adele não se interessa pelo destino desses colegas de profissão e dá um Hello à bibliotecária-chefe para salvá-los do depósito compulsório?