Os efeitos do stress da quarentena na saúde da pele e dos cabelos

O trabalho de um dermatologista vai muito além dos cuidados com a pele e a beleza exterior. É impossível falar de beleza sem falar de saúde e bem-estar. Os três andam juntos, são parceiros e se completam. E neste momento tão único que estamos vivendo, não podemos deixar de lado os efeitos que o distanciamento social e a pandemia provocam na nossa saúde em física e mental.

De repente tivemos que aprender a viver de outra forma, trabalhar de outra maneira, nossos relacionamentos mudaram, seja pela maior ou menor proximidade, o medo entrou com força na nossa nova rotina. Ficar mais tempo em casa não foi sinônimo de tranquilidade, mas acabou, para muitas pessoas, gerando um grande stress e isso ficou literalmente “na cara”.

Um quadro de stress exige um grande esforço do nosso organismo. Quando ele se manifesta, uma alta carga de adrenalina e de cortisol é liberada. O stress prolongado pode gerar uma série de problemas que vão desde pressão alta, taquicardia, distúrbios do sono, dificuldades de memória, cansaço e em seguida queda de resistência e da imunidade desencadeando vários tipos de infecções, cujos efeitos nocivos são visíveis na nossa pele e no nosso cabelo.

Depois de praticamente 5 meses de pandemia essas queixas são bastante comuns nas consultas e nos atendimentos via telemedicina. Vou explicar de uma forma bem simples: o alto nível de cortisol liberado em situações de stress aumenta a oleosidade da pele. Por que? Porque o cortisol provoca um aumento de estímulo nas glândulas oleosas que ficam mais dilatadas. Como consequência os poros da nosso rosto ficam mais abertos, aumentando a oleosidade e facilitando o aparecimento da acne.

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Esse aumento de oleosidade também se estende ao couro cabeludo, causando os diversos problemas capilares, que foram a reclamação número 1 de homens e mulheres nesses últimos meses. No caso do cabelo, a maior oleosidade leva à liberação de estriol, um hormônio que bloqueia a entrada de nutrientes no folículo capilar. Isso faz com que o cabelo tenha menos força para crescer e acabe caindo precocemente. Ou seja, prejudica não só o crescimento saudável como pode intensificar a queda. As dermatites no couro cabeludo também têm sido outra queixa durante comum.

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Toda a queda de cabelo precisa ser investigada. Por isso sempre peço que os pacientes façam os exames para que identifiquemos com certeza o motivo e sejamos assertivos no tratamento. Perder até 100 fios de cabelos por dia é normal. Mas para quem tem pouco cabelo, essa quantidade é muito! A partir de 50 ou 70 fios já pode ser uma queda expressiva para quem tem o cabelo mais ralo. Normalmente, as pessoas ficam alarmadas quando notam um grande quantidade de fios no chão do banheiro, quando lavam o cabelo e percebem a queda maior, acham vários fios de cabelo no travesseiro e nas roupas.

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Para reverter o quadro, cuidar do stress é fundamental. Como dermatologista, sugiro que o paciente busque alternativas naturais como fazer algum tipo de exercício físico, uma meditação, que são atividades que podem entrar na rotina e ajudar a acalmar a mente e reduzir a ansiedade. Evidentemente que casos mas sérios de ansiedade e depressão precisam de um acompanhamento específico além do dermatológico.

Do ponto de vista médico, cada caso é analisado particularmente. O tratamento normalmente inclui uma loção adaptada para cada tipo de cabelo, complementada com medicamentos via oral que contenham silício e antioxidantes, elementos que ajudam muito a combater e controlar a queda. Sobre a pele, destaco que os casos de acne, pioraram muito pelo stress e pelo uso de máscara também. A máscara deve ser usada, sem qualquer sombra de dúvida, mas ela acaba abafando a pele e deixando-a mais oleosa. E lembro que a acne não acomete apenas os jovens, mas os adultos também e tem se tornado outra queixa comum no consultório. No caso da máscara, é preciso lavar e passar com cuidado, procurar deixá-la no sol para matar as bactérias e fungos. Além disso, higienizar muito bem o rosto com um sabonete adequado para o seu tipo de pele. Não esquecer nunca o filtro solar.

Outra consequência que tenho observado é o aumento das dermatites ou eczemas. Geralmente são placas avermelhadas e ásperas principalmente nas dobras do corpo como joelhos e cotovelos. O stress pode ainda agravar ou ser um gatilho para outras doenças de pele como a psoríase, a urticária, o vitiligo.

É fundamental que o dermatologista tenha um olhar global para o paciente, entenda suas queixas e desejos, mostre as melhores soluções para ter um corpo são, uma mente tranquila e uma pele mais saudável.

Para finalizar, cuide bem da sua alimentação, não esqueça de frutas, verduras, legumes, muita água e evite as gorduras e os açucares. As pessoas devem olhar no espelho e não apenas ver um rosto bonito, elas precisam enxergar beleza e saúde.

A dermatologista Adriana VilarinhoRicardo Matsukawa/VEJA.com
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Fernanda de Souza

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