De volta ao Vale do Javari, governo federal instala base da PF e promete reforço na segurança

Região onde morreram Bruno e Dom teve semana marcada por destruição de balsas de garimpo e visita da presidenta do STF

Base da PF no Vale do Javari comporta 200 pessoas e será usada como ponto de apoio para operações

A Polícia Federal (PF) instalou uma base flutuante para atuar de forma permanente na Terra Indígena Vale do Javari (AM) e destruiu três balsas usadas no garimpo ilegal de ouro. As ações ocorreram nesta semana e inauguraram o que o governo federal chama de “retomada” da região, após quase uma década de abandono que culminou com os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips no ano passado.  

Segundo a PF, a base flutuante servirá como ponto de apoio para outros órgãos de segurança atuarem no território indígena, que enfrenta invasão massiva de pescadores ilegais e narcotraficantes, além da exploração ilegal de madeira e ouro. A balsa, com capacidade para cerca de 200 pessoas, está instalada na cidade de Atalaia do Norte (AM), a duas horas de distância da entrada da TI Vale do Javari.

Integrantes da cúpula da PF visitaram na quinta-feira (23) a sede da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), principal organização indígena da região. No encontro estavam o novo superintendente do órgão no Amazonas, Umberto Ramos, e o chefe da diretoria de Amazônia e Meio Ambiente da PF, criada pelo governo Lula, Humberto Freire.

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“A instalação da base da Polícia Federal vai ser muito importante para todos povos indígenas do Javari”, afirmou ao Brasil de Fato Varney Thoda Kanamari, eleito na última semana vice-coordenador da Univaja. “No discurso da Polícia Federal eles falaram que vão combater o crime organizado na região do Vale do Javari, tanto de garimpeiros, narcotráfico pesca ilegal e outros”, relatou a liderança indígena.

Localizada na divisa com Peru e Colômbia, a Terra Indígena Vale do Javari é a segunda maior do Brasil e lar da maior concentração de povos isolados no planeta. Em primeiro lugar está a Terra Indígena Yanomami, onde o governo federal tenta expulsar garimpeiros ilegais com o objetivo de livrar o território de uma crise humanitária provocada pela mineração de ouro e cassiterita.

Base da PF atende reivindicações de indígenas

O posto permanente da Polícia Federal em Atalaia do Norte (AM) é uma das reivindicações feitas há um mês pela Univaja ao governo federal. A organização indígena pediu ainda que o município receba unidades permanentes do Ibama e da Força Nacional, além do fortalecimento das bases da Funai já existentes no território.

Ao anunciar a instalação da base da Polícia Federal no Vale do Javari, o ministro da Justiça Flávio Dino (PSB) disse na segunda-feira que o governo federal planeja novas ações de proteção territorial.

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“É um elemento na ação que nós vamos fazer na Amazônia brasileira. Nós teremos uma série de anúncios relativos à ampliação da presença física das forças de segurança na região”, afirmou o ministro.

Rosa Weber visita território e promete análise do marco temporal 

No Vale do Javari, a semana foi marcada também pela visita da ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Acompanhada do procurador jurídico da Univaja, Eliésio Marubo, ela visitou a aldeia Paraná, do povo Marubo.

Durante a visita, Weber prometeu retomar no primeiro semestre deste ano a análise do chamado marco temporal das terras indígenas, tese jurídica criada por ruralistas que restringe a demarcação dos territórios.

O julgamento, considerado vital para a segurança territorial e jurídica dos povos originários, foi suspenso em setembro de 2021 depois de um pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes, que não tem prazo para apresentar voto.

O Diário Regional

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